Quando Jorge Sampaio derrubou o governo de Santana Lopes, invocou que estava em perigo a democracia. Nunca se percebeu bem porquê, pois liderava um governo legítimo, eleito pelos portugueses e com toda a justificação constitucional. Na verdade, goste-se ou não se goste de Santana Lopes, não havia ponta de inconstitucionalidade no seu governo.
O Presidente da República não pensou assim e não agiu como tal, antes ditadorialmente: dissolveu o Parlamento, convocou eleições e o resultado deu no que deu, numa maioria absoluta para o PS e José Sócrates.
A esquerda, pelos vistos, quer repetir a história e, diante de um governo legitimamente eleito e com suporte parlamentar, o PS, quiçá recordando-se do paio que Sampaio lhe pôs na sandes, proclama a crise no regime e o perigo em que incorre a democracia, para pedir eleições antecipadas - coisa para que o actual PR não parece muito inclinado. Sem pudor e sem vergonhosa, a esquerda quer voltar ao poder através de mais um golpe palaciano, aposta tudo na desgraça do adversário para alcançar o poder de mão beijada. E, convém dizer, o Contra está longe de defender este governo que a democracia nos deu.
A esquerda - o PS e os camaradas do PCP e do Bloco - gostam de apregoar a democracia e os socialistas até se fazem seus padroeiros. Ora, como se vê, a democracia é que tem sido padroeira da esquerda, protegida pela Constituição que invoca conforme melhor lhe dá jeito. São todos uns democratas do catano.