A pretexto da crise, vão-se inventando desculpas para não pagar, para cortar na casaca de segundos, para desdenhar de terceiros, para não fazer, para não ter objectivos, para se gerir à correnteza e sempre com a estafada explicação de que não se pode ir mais além, porque, porque e porque... há a crise.
É a isto que se chama a tal falta de capacidade, ou de moral e ética dirigente.
A este governo pode-se atirar uma pedra: diz que não faz mais porque há compromissos do governo anterior. E não faz mesmo.
É a falsa razão e o falso moralismo.
Falso por não ser moral nem ético invocar erros ou passos de outrém, para se justificar inércia própria, incompetência e falta de golpe de asa.
A governação cumpre um caminho igual, apobretado e cinzento, porque não sabe fazer melhor e é mais fácil justificar-se com o lapso alheio. Sabe fazer contas, o que qualquer contabilista faz. Ou qualquer merceeiro de bairro.
A governação faz por ser moralista, exemplificando-se e ampliando-se na velha tradição portuguesa do "olha para o que eu digo e não para o que faço". Depois, e por isso, é o que se sabe: é uma avenida aberta para o empobrecimento, para a desertificação e o pouco, ou o pouquinho mais que nada, para a falta de esperança e fé no futuro.
A governação tem coisas e faz coisas que nos tiram do sério e fazem lembrar as beatas que circulam pelas sacristias, com um olho na caixa das esmolas e outro na sotaina do padre, a cheirar o aroma do incenso. E da mirra. E mirram as causas colectivas.
Quem deambular pelos caminhos da governação, bem sabe que a qualidade do que faz (ou não faz) e do que diz (ou não diz) e do que outorga em representação do colectivo, é muito mais, e vale muito mais, que o que qualquer governador valha. Dele se desconfie do título académico, ou se tenha certezas da bestialidade ou da sabedoria.
Os moralistas, os isentos e os cinzentos, bem sabem o que sabem e preferem, para não terem de se esforçar. Navegam pelos mares de outros navegadores e quando o tsumani aparece, concentram elaboradas justificações para o naufrágio, remetendo-as para o destino, a sorte ou o acaso, ou para a vontade divina, como se o futuro não fosse consequência dos seus próprios actos e o seu não determinismo não resultasse da abstenção de o contrariar.
Há governações assim: governam por governar.
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