O Contra tem andado meio afastado da realidade ribeirense e só agora deu conta da moção de censura que alguém moveu aos blogues de Óis. Chamou-lhe, à moção, «Blogues Sem Rosto», o que, como título, diga-se que até é uma belíssima imagem cinematográfica. E como filme não estaria mal, seria o mal do menos, não fosse o débito de banalidades da trama que tal juiz enredou à sombra da sua própria eminência.
Há aqui vários problemas a ver, porém.
Em primeiro lugar, antes de o censor se atirar ao ar com a moção, apontando dedos e culpando carmos e trindades de coisas que o Contra não conhece, já o Contra por cá andava, sem nunca se ouvir falar de quem agora (o censor) vem debitar juízos de valor e conceitos que até se contradizem.
Depois, o que apresentou como moção de censura ao que chama «blogues sem rosto» não é mais que uma soma de palavras rebuscadas e ideias teorizadas, para dizer o que não se entende bem e deveria entender-se. Realmente, alguém que age como este censor deve, quando fala e escreve, não esquecer que não fala só de si, ou escreve apenas por ele. É o rosto de uma instituição. Olhem, cá está: um rosto. Faltava um rosto!
O estranho aqui é saber qual é o rosto. E quem é o autor da moção de censura? O que faz, o que fez, quem é, de onde vem, para onde vai, que contas tem de (não) prestar quando (não) fala em nome de interesses terceiros e colectivos.
O autor da moção, paradoxalmente e aparentemente, porém, censura não a auto-faz e muito menos à sua governação - que parece ser o seu maior axe, o de tocarem nela, de sobre ela terem opinião e a mostrarem a quem lê e ouve, de a discutirem e polemizarem. É um direito: o feudalismo já não existe e ninguém da praça pública é não tocável, dono de verdades absolutas e castelão civilizacional de quem o orbita.
Aligeirando a conversa, fez ele o quê e o que de novo trouxe à sobredita, a não ser dar o rosto a uma moção de censura a «blogues sem... rosto». É isso o que não disse. Disse nada, pois. Pôs-se a opinar sobre a curva do infinito.
O censor é até ousado, e até pretensioso, quando, à distância 5/6 meses, se anunciou como futuro autor de «uma reflexão desapaixonada, ecléctica, o mais isenta possível, com conta, peso e medida e a mais eloquente lucidez».
Eloquente?
Lúcida?
Desapaixonada?
Com conta, peso e medida?
O mais isenta possível?
Isto é até atrevimento, que não fica bem a ninguém! Adiante!
O censor fala da necessidade de «congregar opiniões, esforços e vontades para ultrapassarmos a tempestade», mas é ele mesmo quem esta faz num copo de água. Logo, quando fala em «águas revoltas» e em «tempos tempestuosos», dirigindo-se a quem não sabe e como se andássemos todos aos pontapés uns aos outros - e não andamos. Depois, quando se atira de palavras em riste, no faz de conta de que é ele mesmo o paradigma do direito e da verdade, da ética e da moral institucional. Do que se sabe dele, é o que faz e o que dele escreveu (e apagou) o padrinho.
O motor da censura a «blogues sem rosto», por outro lado, não percebeu o direito, o paradigma (diz ele), que é integrar uma sociedade plural, que tem um fio condutor e faz do social um caminho para uma comunidade melhor, mais solidária e afectuosa, na qual não se atropelam direitos, nem se limitam aspirações.
O autor da moção de censura não percebeu duas coisas principais, de entre outras.
Uma, a de que enquanto democraticamente eleito, tem direito e dever de dar a cara pela sua própria governação, com a legitimidade e obrigação estatutárias que lhe assiste, mas deve fazê-lo com prudência e não como franco-atirador.
Outra, a de que esta moção só conta mesmo como prova de vida da sua governação, porque é inócua desde o início (a moção) e não acrescenta nada a uma magistratura governativa de que se esperava muito, mas mesmo muito mais - se levado a sério o discurso de posse.
A moção de censura, de verdade e claramente, não traduz mais que falta de imaginação e engenho para potenciar as soluções que anunciou para o seu governo - durante o qual foi criando problemas novos e sem, em algum tempo, apresentar propostas positivas e construtivas, para ajudar a enfrentar o futuro e, e citamo-lo, «vencer as tormentas que a cada vaga nos vão assolando».
Como escreve o seu vice-presidente, «o espírito de disponibilidade e vontade de assumir papéis nas causas comuns e comunitárias não combale».
Então, senhor motor de censuras, não se deixe combalir pois, se assim não for, parecerá que a moção ficará feita ao bife e a governação às avessas, sem estratégia, com convicções ao sabor do vento e da maré (para usar a sua linguagem náutica), num exercício do poder pelo poder, sem qualquer ambição maior que não seja a de acabar o mandato, bater com a porta e deixar cacos partidos na loja.
O Contra apreciou a ideia da moção de censura, achou-a quiçá interessante e um bom princípio de conversa, que nos poderia levar longe. Divertiu-se até. Mas pensa, e tem a certeza, de que para tudo é preciso ter lastro, mais força e menos amuos.
Sem comentários:
Enviar um comentário