O brutal assassinato de um cronista social português em Nova York deixou-nos todos de boca aberta e com o coração cheio de medo. Não por a vítima ser alguém conhecido, mas pelo modo como morreu, na sequência de um acto de violência extrema e quase indizível.
O agressor terá sido Renato Seabra, um jovem aqui quase vizinho, de Cantanhede, de quem dizem ser sereno, simpático, normal, uma jóia de pessoa. Sempre que o assassino assim é descrito, dou comigo a pensar até que ponto não somos, todos nós, uns potenciais homicidas?
E sobre qual é a fronteira entre a sanidade e a loucura? Na razão porque se mata alguém, quando isso não se faria, normalmente.
Penso também na mãe do suposto assassino e pergunto-me do que sentirá ela, por ter de admitir, ante as evidências que a televisão nos mostra pela casa adentro, que é mãe de um filho homicida?
Que lutos e dores sentirá, que culpas e que medos esconderá do nosso olhar, tapando-os no coração?
O que mais próximo me lembro, em Óis, foi a de um irmão que matou outro, por envenenamento. Apanhou não sei quantos anos de cadeia e já está solto.
Mas sempre que passo pela mãe, e vejo-a de vez em quando, nas idas de sábado ao cemitério - precisamente estando ela na campa do filho assassinado pelo próprio irmão - fico-me a pensar que vertigem sentirá ela ante as dores que lhe deram os filhos que pôs no mundo.
Vejo-me aquela mãe e estas dúvidas enchem-me de receios e nervos, pois nunca se sabe o que nos espera e o que nos sai na rifa da vida, se é bom ou se é mau. Se a porta que se abre (ou se fecha) é o fim ou o princípio de tudo. Se é uma porta para o abismo e para o fim de alguma linha. A de alguém.
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