24 setembro 2006

||| VALHA-(N)OS DEUS!

O padre Carreira das Neves leu a palestra do Papa Bento XVI, que inflamou algumas secções da "rua árabe" , que não a leram, nem jamais a lerão. E considerou-a "um documento notável", desde logo por "estabelecer pontes epistemológicas entre a Fé a Razão".
O próprio Papa acentuou, sem deixar dúvidas: "Não agir de acordo com a razão é contrário à natureza de Deus".
Notável. Lamentavelmente, a palestra incendiou os ânimos dos islamitas radicais, que mal ouvem falar em razão puxam logo da pistola. É com esta gente que queima efígies do Papa em público que alguns clérigos cá do burgo gostariam de estabelecer um "diálogo inter-religioso" - entre eles o padre Neves, que num artigo no Expresso lança esta douta sentença: "O Papa não foi feliz". Separar violência e fé, como Bento XVI defendeu na universidade alemã de Ratisbona, terá sido "um acidente académico perigoso para a ideologia muçulmana dos nossos dias".
Carreira das Neves não pensa assim. E acha até que a vandalização de igrejas na Palestina e o lançamento de cruzadas de morte contra Bento XVI constituem respostas "de acordo com a crítica do imperador bizantino" Manuel II, que o Papa citou em Ratisbona. E que crítica é essa, feita em 1391 pelo imperador a um interlocutor persa de fé islâmica? "Mostra-me o que é que Maomé trouxe de novo. Apenas encontrarás coisas más e desumanas, como a sua directiva de espalhar com a espada a fé que pregava."
Horror! O Papa não devia ter beliscado, mesmo recorrendo à linguagem metafórica, esta relação entre proselitismo e actos violentos... Chegado aqui, apetece-me subscrever Clara Ferreira Alves, numa insuspeita tirada machista no Eixo do Mal: "Chega de baixar as calças!"
É um argumento um bocado prosaico, reconheço. Mas depois de ver o padre Neves fazer coro com os radicais islâmicos nas críticas ao Papa Ratzinger, também não me ocorre nenhum mais expressivo que este. Às vezes penso que a Síndroma de Estocolmo não afecta só aqueles que são fisicamente prisioneiros, mas também os que se encontram espiritualmente sequestrados. Valha-lhes Deus. Ou valha-nos a nós!
O que pensará disto tudo o nosso padre Júlio?

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