Uma amiga minha contou-me hoje a razão proque, desde há algum tempo, andava triste e de mau feitio. Pensava eu que por qualquer zanga com o marido. Não era: pode ir perder a casa, de que deve uns milhares de contos.
O drama dela é o de muita gente e também eu o temo, ainda que com emprego certo (?): o marido está desempregado vai para um ano, o dinheiro falta em casa e depois de deixarem de frequentar restaurantes e fazerem férias fora, agora estão de contas esganadas. Deixaram de pagar a prestaçao e têm o banco à perna.
Toda a gente sabe que esmagadora maioria das muitas centenas de imóveis que este ano já foram "à praça" pertencem a bancos, que se vêem confrontados com uma subida dos casos de incumprimento, da parte das famílas.
Divórcios, orçamentos pura e simplesmente mal geridos (que desembocaram em situações de sobreendividamento), desemprego e subida das taxas de juro são os factores que estão a contribuir para que muitas famílias tenham deixado de conseguir pagar a prestação do empréstimo e desistido de vender a casa pelos próprios meios. A dação da casa em pagamento ao banco é uma solução que evita o recurso aos tribunais. O pior é o depois. Para onde ir? Para casa do pai ou da sogra?
Há um outro problema e não é pequeno: houve tempo em que os empréstimos eram feitos por valores superiores e, agora, os apartamentos, para além de serem vendidos ao desbarato, não têm quem os compre. Isto é, os bancos vão procurar cada vez mais não os receber e continuam a debitar juros atrás de juros - mesmo que baixem as taxas. Isto é: deve-se cada vez mais.
Entendo muito bem as lágrimas da minha amiga, que há tempo deixou de comprar roupas em boutiques, indo arranjá-las na feira. Outro dia, disse-me uma coisa espantosa e que não me passaria pela cabeça: andava a vestir-se com roupa deitada fora pelos americanos.
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