08 outubro 2006

||| O OUTONO E AS CASTANHAS ASSADAS, A ESCOLA, OS CARAPUÇOS DE SACOS DE ADUBO! - 1

Esperava um dia cinzento e húmido para escrever esta peça. É sobre as memórias que me desperta o Outono, com as tonalidades mornas e amareladas das folhas no chão, do fumo bem cheiroso das castanhas a assar na lareira lá de casa e que a minha avó sempre lá mandava dentro de um cartucho de papel costaneira.
Ou da gota de chuva puxada pelo vento que estalava na cara, anunciando o fim da do jogo da bola no largo da fonte do cruzeiro, onde podíamos andar á chancada uns aos outros sem qualquer problema de trânsito.
Hoje até está o céu azul, e esta estação traz-me sempre memórias de infância. O Outono lembra-me o início das aulas, a escola primária e as minhas primeiras paixões, medos e emoções. Confesso que eu era meio malandro e não gostava muito da escola. De qualquer forma, todos os dias para lá me deslocava sozinho, para um mundo novo, meio amalucado e exigente. E todos os dias lá me encontrava com a professora sempre no estrado, enquadrado pelos planisférios e o fogão de lenha que nunca vi aceso, as figuras do Estado e, ao fundo, os armários com as figuras geométricas e algus mapas com o corpo humano.
Eu era um verdadeiro cábula e “levava” reguadas todos os dias. Fosse por mau comportamento, ou porque não tivesse feito os trabalhos de casa, ou por causa dos erros de ortografia. Lembro-me da expressão ameaçadora da professora, apanhando-nos num flagrante rebuliço à entrada da sala, depois do recreio das 10. Vociferava: “Isto não é nenhuma república!!!”.
O Outono era definitivamente uma época misteriosa e mágica, quando as intermináveis férias grandes acabavam naqueles dias já tão curtos. E lembro-me dos preparativos, quando chegava a casa com a minha mãe, vindos de comprar uma pasta nova, ou umas galochas pretas para eu levar para a escola. Então é que nunca mais chovia?!.... Vaidoso, eu acabava por levar as botas de borracha mesmo com bom tempo e andava na escola com os pés horrívelmente suados, de calaor, enquanto os meus companheiros gozavam comigo que nem uns pretos . Dáva-lhes troco e vingava-me, fartava-me de rir cá para dentro, quando, com as galochas novas que eu trocava na escola por sapatos com sola de borracha, em dias de chuva, e eles tinham de ficar toda a manhã com os pés molhados. E não os deixava recolherem-se no meu guarda-chuva e eles tinham de a apanhar com aqueles carapuços feitos com os sacos de adubo. Ou quando trocava o meu pão com manteiga por um tracanaz de broa com bocados de bacalhau cru.
Os nossos filhos, agora, sabem lá o que é isso. Querem é playstion´s novas, um telemóvel de última geração e IPod´s. Amanhã volto ao assunto.

1 comentário:

d´OIS POR TRÊS disse...

Boa, Contra d´Ois, eu esta noite rejuvenesci uns bons pares de anos, sou deste tempo. Obrigado pelas bonitas recordações que me trouxeram.