09 outubro 2006

||| O OUTONO E AS CASTANHAS ASSADAS, A ESCOLA, OS CARAPUÇOS DE SACOS DE ADUBO - 2

(continua de ontem)
Nesse tempo, tinha direito a cinco escudos por semana para ir para a escola. O meu pai não era muito dessas coisas, barafustava sempre... mas a minha mãe, sempre muito desvelada, entendia que «o menino pode precisar de alguma coisa e nós não estarmos cá...». Ela estava sempre, a trabalhar na terra, a sachar o milho, a tomar conta da horta, a cozinhar para nós todos... Mas nunca me era dada outra mesada sem eu prestar contas dos cinco paus.
E lá me avisava ela, a minha mãe, para estar sempre alerta, para ter cuidado, não aparecessem alguns “ciganitos” que me roubassem o dinheiro. Mas do que eu tinha medo era da bola de futebol, que ma roubassem e me espetassem uma “pêra” na cara ou me fizessem outro qualquer mal.. O mundo de facto sempre foi perigoso.
Regressávamos a casa normalmente pelas três horas, em pequenos bandos pela rua abaixo, a chutar nas pedras ou fazer corridas, pisar as folhas secas, ou chapinhar nas poças de água. Parávamos no adro e íamos dar uns pontapés na bola, se eu a levasse e estivesse bem disposto. A sra. Celeste lá aparecia: «Meninos, olhem os vidros... Ai o sr. padre!...». Ou então a Cinda a chamar-nos
«os estupores dos rapazes".
Neste Outono de castanhas, por vezes dividíamo-las assadas e frias, já sem casca e corríamos depois carreira da Igreja abaixo, até ao largo da fonte do Cruzeiro para as nossas futeboladas. Respirávamos o cheiro das castanhas sempre a correr e assustávamos, aos gritos meio amalucados, os pombos esbaforidos que saíam do pombal dos Resendes. E não poucas vezes,, no largo da fonte, éramos ameaçados com umas relhadas da tia Ermezinda. Ai se a bola batesse na portada sala dela... E se fosse nos vidors, Deus nos livrasse.
Um dia, já meio entrados no verão, fomos jogar a bola para o areal do rio, no Freixoeiro, comigo vestido “à Sporting” , contra uns indígenas quaisquer, de Travassô. O «empresário» do jogo foi o (????), que tinha lá uns primos, mas o adversário não apareceu e depois todos os d´Ois queriam a minha camisola do Yazalde, o número nove. A minha sorte foi que a bola foi parar ao rio e, por causa disso, para ir buscá-la, passou-se o tempo todo e esqueceram-se da camisola do Yazalde. Nunca mais a levei. Só a vestia na casa da eira, onde punha um espelho seguro no ventilador, para me olhar de lado... à Yazalde.
Amanhã, se não se importam, volto aqui para fechar esta loja.

1 comentário:

d´OIS POR TRÊS disse...

E quando íamos roubar cachos e fruta ao quintal do ti Fernando Barrão e do sr. Edmundo e saltávamos o muro do sr. Armando Resende e da Zézinha do padre...