Há daquelas expressões populares que nos ficam de ouvido e nos sabem sempre a gelado de chocolate, no verão. «Assim não vamos lá» é uma delas e tanto quanto sei é como a saudade portuguesa, não tem correspondência em nenhuma outra língua. É um exclusivo nacional, quer na forma como no conteúdo. Todos nós sabemos que «assim não vamos lá».
E se o «assim» é fácil de explicar e entender, porque basicamente se estende a tudo o que possamos fazer enquanto portugueses, já o «ir lá» se reveste de um sentido inexplicável que, na minha opinião, contribui para que de facto nunca lá cheguemos. E vamos lá, aonde? E como e com quê?
Sabemos que o país está a correr mal e que se as coisas continuarem «assim, não vamos lá». A situação não é nova e assim não temos ido lá há alguns séculos. Convém no entanto perceber esta obsessão portuguesa em «ir lá». Porque raio havemos de «ir lá»? E onde fica isso? Ninguém sabe. E o problema reside exactamente nisso: andamos meio perdidos há séculos porque assim não vamos lá, mas não fazemos a mínima ideia onde é que lá fica. Sabemos apenas que não é assim que lá chegamos.
A verdadeira questão que devemos colocar não é saber onde é que é lá. Esse lugar estranho onde teimamos em nunca chegar, por uma razão ou outra. A questão fundamental consiste em saber por que diabo havemos de ir lá e não podemos ficar exactamente aqui.
Sabem o que vos digo, ó vocemecês d´Óis? Olhem, assim não vamos lá!!!