01 novembro 2006

||| O NATAL É QUANDO UM HOMEM QUISER, A TELEVISÃO MANDAR E OS COMERCIANTES ENFEITAREM AS PRATELEIRAS


Vi hoje pessoas que já não via há muito tempo e em dias de Todos os Santos falámos do Natal, a grande festa do nosso tempo de crianças - quando ainda não existiam os modelos, os feiras novas, os continentes e as lojas dos chineses. Naquele tempo, até meias novas estreávamos, comíamos bilharacos e rabanadas, era uma festa a fazer o presépio na igreja. E beijávamos o Menino!!! Disseram-me hoje que de há uns anos para cá só fazem uma imitação. E então os bonecos do ti Gil?
Talvez mais por isso que por crença religiosa, a verdade é que para mim a festa de Natal é no dia 25 de Dezembro e guardo sempre a ocasião uns dias de férias e, com a alma vestida de gala, nesse dia celebro em família o nascimento de Jesus Cristo.
Nas quatro semanas precedentes, iremos desfolhar um calendário do advento numa consciente preparação para o grande evento. Para mim, a celebração do Natal está protegida pelo sentido e pela essência que a fundamenta. Porém, com crescente ruído outra festa já se faz anunciar. Uma canseira. Chamam-lhe Natal, mas será outra coisa por certo. É que ao contrário do que disse um poeta, seguramente o Natal não é “quando um homem quiser”. O "homem" normalmente quer outras coisas.
A televisão, já iniciou as exaustivas lavagens de cérebro apresentando um infindável e tentador catálogo de coloridos pechisbeques, que farão a criançada feliz por cinco minutos - ou apenas um instante. Anunciam-se automóveis de sonho em prestações suaves a pagar lá para as calendas gregas. Centenas de pais natais, animados, reais, digitais e vestidos à Benfica preparam-se e já “aquecem” ordenadamente para o massacre. Tanta poluição sonora e visual, desorienta as crianças e confunde-nos, a nós adultos. Enfim, o sonho já está à venda para todas as bolsas.O problema é que, como acontece com todos os sonhos, um dia acordamos na realidade. Sem resolver o vazio, sem praticar o amor, sem cumprir a relação que nos justifica.
Aproveitada pelo político, pelo publicitário ou pelo comerciante, despojada do seu fundamento espiritual (essencial), a festa do Natal hoje em Portugal é vulgarizada e desvirtuada. Impregnada de frágeis e patéticos ideais líricos, esta quadra tornou-se território de um ensurdecedor despique de marketing, um monumento ao desperdício e à opulência.
A felicidade descartável, os sonhos recarregáveis estão em promoção num qualquer hipermercado perto de nós. Um deprimente histerismo consumista é (cada vez mais) longa e exaustivamente promovido pelos ares da cidade, pronto-a-vestir, pronto-a-comer, pronto-a-usar e pronto-a-esquecer. E se calhar, alguns inocentes mais entusiastas consumidores desta feira de ilusões, atafulhados de dívidas e de tralhas inúteis, vão despertar de novo, em Janeiro, para uma pesada e gratuita depressão pós-traumática pós-stress.
Já começou o Natal!!! E será que este ano, em Óis da Ribeira, vamos ter iluminação de rua?

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