18 outubro 2008

||| A CRISE!!!...


A gente ouve, ouve e... a procissão da crise tem todo o aspecto de ainda ir a meio do adro. Ouvimos economistas, financeiros, comentadores e políticos e nenhum deles nos dá uma explicação cabal, um rumo ou uma ponta de ânimo. Uns justificam a desorientação ou tentam disfarçar porque andaram, na véspera da crise, a dormir na forma. Outros erguem o cartaz do Santo Estado. Os neo-liberais assobiam para o lado. Os anti-liberais, exorbitam no entusiasmo sádico, sobretudo os fanáticos pelas revoluções perdidas, falhadas e adiadas que desenterram Marx e tentam impingir Lenine, passeando-se como jagudis do banquete necrófilo do fim do capitalismo. Todos puxam brasas, nenhum assa a sardinha.
Se estamos fartos da crise, sabendo que a ela nos temos de adaptar mas não sabendo como, mais fartos estamos da maioria dos comentadores da crise. Um banqueiro devia ser o último a falar de crise bancária. Um economista devia ter pudor em analisar a profunda desvalorização da economia real face à prevalência do capital financeiro. Um financeiro devia calar-se pelo descalabro das suas recentemente consagradas obras de engenharia. Um político devia, em primeiro lugar, fazer mea culpa pela perda voluntária e voluntarista do primado da subordinação do económico ao político. Os revolucionários deviam saber que a memória dos povos ainda não esqueceu a propensão para as atrocidades utópicas apresentadas como soluções messiânicas para os males do mundo.
O que resta, então? Talvez uma ou outra voz lúcida que diga qualquer coisa de inteligível e coerente neste deserto desorientado que não mostra nem saída de emergência nem escada de serviço. Mas que não seja banqueiro, economista, financista, político ou revolucionário.

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