01 abril 2010

||| DAMOS NÓS LÁ À ROCA E SOMOS NÓS CÁ A SER TOSQUIADOS...

As minhas tias, quando era pelo inverno, costumavam juntar-se com a minha mãe, sentadas ao lume e a fazer tricot, enquanto a minha avó fazia uma coisa sempre muito estranha para mim, as meias de lã. 
Estranha porque, na minha imaginação de criança, não concebia como era possível que a pele das ovelhas (a lã) pudesse dar em meias.
Até me assustava de as calçar, embora fossem muito quentinhas.
A minha avó, quando começava o inverno, levava sempre um saco com lã e punha-se a desfiá-la, enrolando-a numa roca e num deles fez-me uma camisola. Começou a fazer uma  camisola, mas não acabou porque as minhas tias lhe atazanaram o juízo. Lã boa para as camisolas era a que elas compravam no sr. Alexandre.
 Venho aqui falar hoje disso porque entrava na história por ser constantemente envolvido nas preliminares tarefas de transformar os feixes de lã numas bolas, que serviriam para alimentar as agulhas do crochet ou do tricot. Aquilo, nos primeiros minutos, até dava um certo gozo,  mas depois eram minutos que me pareciam eternidades, comigo ali de braços estendidos, a fazer de roca. E quando terminava um dos feixes, lá vinha, apesar do meu cansaço: "Oh amor, vamos fazer mais um que aquela nem dá para uma manga...".
É como a vida pública d´agora: a gente passa a vida a dar lã ao fuso ou à roca, mas somos nós que ficamos tosquiados pela cobrança dos impostos.

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