Acontece muitas vezes e vai voltar a acontecer outras tantas vezes: quando se vê uma mulher bonita, em qualquer lugar público, miramo-la de soslaio, com ar de infinita gulodice. Quando olhamos uma mulher, mesmo que se faça estar com um qualquer companheiro, não tiramos o olhar do canto dos olhos para a observar melhor.
Hoje, assim foi: ela, visivelmente enfadada, sentada na mesa junto á janela do restaurante, contemplava o prato e olhava para fora, com visível falta de apetite, enquanto ele se entretinha em gargalhadas sonoras, a falar ao telemóvel.
Assim passaram largos minutos!
Ele sempre entretido com um gadget qualquer do telemóvel, que não parava de tocar e ele atender. E assim passaram a refeição: ele alheado e telemovilizado, ela resignada àquela solidão a dois e sabendo-se olhada por desejos carnais ali a lufarem bem pertinho dela.
O par assim tão distante é formado por dois jovens, presumívelmente namorados - ou amigos especiais, como agora se diz. Ao ver aquela falta de chama tão evidente, interrogo-me porque se tornou tão fora de moda a arte do namorar, porque morreu o bom galanteio e o prazer de partilhar pequenos momentos inesquecíveis.
As actuais relações humanas - e a dos tais amigos especiais - estão cansadas! As paixões são volúveis e curtas, o que no nosso tempo era chama que ardia e não se apagava, é agora algo virtual e casuístico. Os jovens não amam, nem namoram, preferem antes os milhares de “bjs” por sms - que parecen fazer serem mais excitantes do que beijar à moda antiga.
O casal sai e ele paga a conta, com cartão de crédito! É tudo electrónico. Até o amor!!! Ela, de mala pendurada no ombro esquerdo, segue em frente e irradia beleza e elegância. E tédio, assim me parece. Ele continua de mão cheia com o telemóvel colado ao ouvido. E ri-se, ri-se, à gargalhada meio atoleimada.
O amor deste tempo não é o de há 10/15 anos! Falta-lhe amor!