28 maio 2008

||| O SONO DAS CRIANÇAS E AS PALAVRAS INVENTADAS


Quem adormece crianças sabe do que falo. Há, quase sempre, momentos de uma tensão prolongada, um jogo da corda virtual: a criança a esticar para o lado de manter-se acordada e a mãe para o lado de a adormecer.
Nesse jogo do puxa-empurra, todos os assuntos, por mais despropositados que pareçam, são armas que a criança usa para prolongar o momento. E nós, ficamos assim divididos entre a necessidade e vontade de ensinar e a vontade de terminar com o momento, de sair dali para fazer qualquer coisa ou, simplesmente, ir pastar para um sofá com uma manta nos joelhos.
Não resta dúvida que as crianças sabem explorar as nossas fraquezas e entalam-nos contra a parede das nossas contradições, com uma enorme categoria.
Numa das últimas batalhas, a principal arma de arremesso utilizada foi um questionário sobre a nomenclatura de nomes de familiares, das diversas gerações. Por sinal, um assunto que me seduz tanto como um campeonato de tiro aos pratos de Andorra, ou no Afeganistão. Mas lá fui embarcando na conversa, começando por despachar a parte dos genros, noras, sobrinhos e afins. Entramos, finalmente, na secção dos pais dos pais e por aí fora:
- E como se chama a mãe duma avó?
- Bisavó.
E a coisa prossegue: e a mãe dessa e a que vem a seguir? E eu, trisavó, tetravó. Saltam-se alguns números e pergunta pela décima. E eu:
- Decavó
Assim mesmo, dito com uma enorme certeza na palavra, sem que a menor sombra de dúvida se viesse intrometer neste momento tão pedagógico. Ela, claro, engoliu. E adormeceu. Pfff, finalmente!...
Eu, é que fiquei a pensar no que tinha dito. Não fazia a menor ideia se o que disse é proporcional à preguiça dos pais que deitam os filhos.

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